Megaoperação contra lavagem de dinheiro do PCC em postos de combustíveis aponta mais cinco grupos criminosos envolvidos
03/09/2025
(Foto: Reprodução) Mohamad Hussein Mourad, conhecido como "Primo", e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco", eram responsáveis por comandar o esquema do PCC no setor de combustíveis e foram para lista vermelha da Interpol por estarem foragidos
Montagem g1/Reprodução/Redes sociais/Polícia Civil
A megaoperação da semana passada contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) mostra que, além da facção criminosa, o esquema bilionário de lavagem de dinheiro envolvendo postos de combustíveis e fintechs contou com a participação de mais cinco grupos criminosos.
De acordo com a força-tarefa, são eles:
Grupo Mohamad - liderado por Mohamad Hussein Moura e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco", atuava na cadeia de produção de combustíveis, incluindo usinas de cana-de-açúcar, distribuidoras, formuladores, empresas químicas, postos, lojas de conveniências e padarias. Seus integrantes, incluindo familiares de Mohamad, são acusados, por exemplo, de fraudar bombas de combustíveis, adicionando metanol a gasolina e ao álcool, montando uma espécie de cartel. Mantinham ligação com traficantes de drogas e armas do PCC.
Grupo Ricardo Romano e Potenza - o empresário Ricardo Romano é suspeito de lavar dinheiro para o crime organizado por meio de postos de combustíveis e lojas de conveniência. Segundo a força-tarefa, ele tem envolvimento com o PCC e participava de esquema de sonegação fiscal, usando "laranjas" para ocultar a origem de seus bens. A Potenza Atacadista tem ligação com Romano. É uma empresa de fachada usada para ocultar verdadeiros beneficiários de rede de lojas de conveniência que visava lavar dinheiro para a organização criminosa. Um de seus sócios, Gilvan Ferreira, tem condenação por associação ao tráfico de drogas;
Família Cepeda Gonçalves - responsável pela Rede Boxter, foi identificada como tendo atuação no setor de combustíveis e conexões com organizações criminosas. O grupo é formado por Natalício Pereira Gonçaves e seus filhos. A rede deles possui postos de combustíveis;
Irmãos Salomão - esse grupo tinha contato com Vinicius Gritzbach e José Carlos Gonçalves, o "Alemão" _ ambos conhecidos por lavarem dinheiro para criminosos e para o PCC. Gritzbach foi morto em 2024;
Grupo Manguinhos - refinaria de combustíveis, que atualmente se chama Refit, passou a operar em favor do grupo Mohamad. Se associou a família Mohamad, que estabeleceu filiais de distribuidoras e terminais em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, indiciando uma atuação coordenada.
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Ainda segundo a investigação, membros do PCC se infiltravam em instituições financeiras e adquiriam postos de combustíveis para lavar dinheiro, como o obtido com o tráfico de drogas.
Os envolvidos são acusados de cometer crimes contra a ordem econômica, fraude fiscal e estelionato a partir da adulteração de combustíveis.
A Justiça também determinou o cumprimento de mandados de prisões. A operação ocorreu na última quinta-feira (28) em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Segundo a investigação, com esse esquema, o PCC adquiriu mais de R$ 30 bilhões em bens patrimoniais no Brasil, como ações em fintechs (algumas na Avenida Faria Lima, na capital paulista), propriedades em fazendas de cana-de-açúcar e postos de combustíveis.
Segundo a Receita Federal, R$ 7,6 bilhões deixaram de ser declarados em São Paulo. A sonegação fiscal também foi verificada em outros estados.
Posto de gasolina da rede Boxter no interior de São Paulo.
Divulgação/Boxter
Além da Receita, também participam da megaoperação a Polícia Federal (PF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP) de São Paulo, entre outros Ministérios Públicos estaduais. Esses órgãos contam com o apoio da Polícia Militar (PM) e da Polícia Civil locais.
A força-tarefa juntou três operações: Carbono Oculto, do MP, e Quasar e Tank, da PF, e, juntos, promotores e policiais visam desarticular o envolvimento do PCC no esquema criminoso.
Segundo as autoridades, a facção controlava a cadeia produtiva de combustíveis desde a produção, em fazendas de cana, até o momento em que "batizava" gasolina com metanol. Depois aplicava o dinheiro do esquema criminoso em investimentos financeiros.
Quem saiu prejudicado nisso foi o consumidor, que pagou por combustível adulterado em seu veículo. Para ter acesso a fazendas, postos e fintechs, o PCC usava "laranjas", pessoas contratadas para se infiltrar e participar da fraude.
Viaturas da PF e da Receita em frente a prédio na Faria Lima durante megaoperação que investiga fraude do PCC em postos de combustíveis
Amanda Perobelli/Reuters
Dos 14 mandados de prisões decretados pela Justiça, as autoridades conseguiram prender 6 dos investigados na quinta passada:
João Chaves Melchior: ex-policial civil;
Ítalo Belon Neto: empresário setor de combustíveis;
Rafael Bronzatti Belon: dono de empresa de serviços financeiros;
Gerson Lemes;
Thiago Augusto de Carvalho Ramos: empresário do setor de combustíveis;
Rafael Renard Gineste: empresário, sócio-administrador fintech.
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Mais oito investigados não foram localizados, e a Polícia Federal pediu a inclusão dos nomes e das fotos deles na Interpol. Eles entraram na difusão vermelha, que é um mecanismo para o compartilhamento de informações de foragidos internacionais. Na prática, a inclusão permite que os suspeitos sejam localizados pelas polícias de 196 países-membros da maior organização policial do mundo.
Veja quem são os oito foragidos:
Mohamad Hussein Mourad, conhecido como "João", "Primo" ou "Jumbo": é apontado como "epicentro" do esquema pelo MP;
Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco": considerado pelos investigadores como "colíder" da organização criminosa;
Daniel Dias Lopes: chamado de "pessoa chave" na organização criminosa por ter ligação com distribuidoras de combustíveis de Mohamad;
Miriam Favero Lopes: esposa de Daniel e sócia de empresas ligadas ao esquema;
Felipe Renan Jacobs: empresário do setor de combustíveis;
Renato Renard Gineste: empresário do setor de combustíveis;
Rodrigo Renard Gineste: dono de varejista de roupas;
Celso Leite Soares: dono de empresa que cultiva cana-de-açúcar no interior de São Paulo.
A equipe de reportagem não conseguiu localizar as defesas dos grupos investigados, dos suspeitos presos nem dos procurados para comentarem o assunto.
Os investigadores identificaram mais de 300 postos que atuavam nessas fraudes. Já o setor estima um impacto maior, em cerca de 30% dos postos em todo o estado de São Paulo, em torno de 2.500 estabelecimentos.
A Receita Federal também identificou ao menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pelo PCC. Segundo o órgão, as operações aconteciam justamente no mercado financeiro de São Paulo, por meio de membros infiltrados na Avenida Faria Lima.
Infográfico explica lavagem de dinheiro ilícito do PCC por meio de fintechs.
Arte/GloboNews
Infográfico - Caminho do dinheiro no esquema do PCC
Arte/g1
Infográfico explica caminho do dinheiro no esquema do PCC.
Arte/g1
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