Entenda como funcionava esquema de fraudes em licenças de mineração em MG revelado pela PF
18/09/2025
(Foto: Reprodução) Entenda como funcionava esquema de corrupção no setor de mineração
A Operação Rejeito, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (17), revelou um sofisticado esquema de corrupção ligado ao setor de mineração em Minas Gerais.
Segundo as apurações, empresários, políticos e servidores públicos faziam parte de uma organização criminosa estruturada em diferentes frentes de atuação.
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Eles são suspeitos de crimes como organização criminosa, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, crimes ambientais e contra a ordem econômica.
Entenda, abaixo, como funcionava esse esquema:
Fiscalização da Semad flagrou caminhões com minério em área de lavra irregular da Gute Sicht em 2023.
Robson Santos/Semad/Divulgação
Separação por núcleos
O esquema tinha como principal objetivo liberar licenças de forma irregular e beneficiar mineradoras ligadas ao grupo. A organização também teria se apropriado de rejeitos da Vale, avaliados em mais de R$ 200 milhões, e movimentado recursos por meio de dezenas de empresas de fachada.
QUEM SÃO: veja perfil dos alvos
AÇÕES DO GOVERNO: servidores foram exonerados
Para garantir os resultados, os investigados se dividiram em núcleos, com papéis específicos:
Articulação: responsáveis por aproximar empresários e órgãos públicos para destravar processos;
Jurídico: advogados e consultores elaboravam contratos, pareceres e pedidos de defesa;
Financeiro: controlava planilhas, contas de laranjas e o pagamento de propinas;
Gerencial e ambiental: mantinha contato com órgãos ambientais e assinava termos para facilitar liberações;
Servidores públicos: aceleravam autorizações e desconsideravam pareceres técnicos em troca de vantagens financeiras.
Exemplos de fraudes
Um caso citado pela investigação envolve a mineradora Gute Sicht, que obteve licença de exploração em tempo recorde, liberada no Natal de 2022, mesmo com pareceres da Advocacia-Geral da União (AGU) apontando irregularidades.
Outro exemplo é da Aiga Mineração S.A., que teria se apropriado indevidamente de uma pilha de rejeitos da Vale, avaliada em R$ 200 milhões.
A operação revelou, também, decisões da Agência Nacional de Mineração (ANM) que contrariaram pareceres técnicos. Há indícios de que R$ 2,7 milhões em propina foram pagos diretamente a um dos diretores da agência.
Movimentação de dinheiro
Para sustentar o esquema, ao menos 42 empresas de fachada foram abertas. Elas serviam para repassar propinas, movimentar recursos e dar aparência de legalidade às operações.
A PF identificou várias camadas de empresas sobrepostas, justamente para dificultar o rastreamento da origem do dinheiro.
Interferência política
O grupo também teria atuado para barrar projetos de criação de áreas de preservação na Serra do Curral, em Belo Horizonte.
Segundo a PF, havia interesse em evitar restrições ambientais que inviabilizariam empreendimentos de mineração ligados ao grupo.
Quem são os principais investigados
Entre os nomes citados estão o empresário Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como líder da organização; o ex-deputado estadual João Alberto Paixão Lages (MDB), descrito como sócio oculto e articulador político; além de servidores de órgãos ambientais e diretores da ANM, suspeitos de facilitar liberações mediante pagamento de propinas.
O g1 e a TV Globo tentam contato com a defesa dos alvos da investigação.
A ANM informou que tomou conhecimento, pela imprensa, de operação da Polícia Federal.
"Até o momento, não houve comunicação oficial à Agência sobre eventuais medidas envolvendo servidores ou dirigentes. A ANM reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e a colaboração com as autoridades, sempre que formalmente demandada, observando o devido processo legal e a continuidade dos serviços regulatórios", afirmou a agência.
A 3ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte determinou prisões preventivas, afastamento de servidores, bloqueio de bens, suspensão de atividades das 42 empresas investigadas e cumprimento de mandados de busca e apreensão, cumpridos nesta quarta-feira.
Alan Cavalcante do Nascimento, Caio Mario Seabra e João Alberto Paixão Lages - alvos da operação que mira fraude no setor de mineração
Reprodução
Infográfico - Operação Rejeito, da Polícia Federal, revelou esquema de mineração ilegal em MG
Arte/g1
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