'Caça foi boa, peixes e onças': troca de mensagens mostram piadas e códigos para combinar propina com servidor do Detran, diz MP

  • 18/10/2025
(Foto: Reprodução)
Conversas mostram propina sendo combinada por meio de códigos, diz MP Reprodução Um esquema envolvendo pagamento de propina para um oficial administrativo que atuava no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP), em Saltinho, no interior de São Paulo, envolvia o uso de códigos com nomes de animais, segundo a denúncia do Ministério Público (MP-SP). Segundo a acusação, o então servidor recebia propina de um escritório de despachantes de Campinas (SP) para facilitar trâmites irregulares de documentações de veículos. Ele e três homens ligados ao escritório foram condenados - os nomes não foram divulgados. Eles negam as acusações. Segundo a Promotoria, durante as investigações, foram acessadas conversas entre os quatro em um grupo criado para combinar a propina, no qual os termos relacionados ao pagamento eram codificados. As apurações apontam que “peixe” fazia referência à cédula de R$ 100, e “onça” indicava a cédula de R$ 50. Em outras vezes, o dinheiro era chamado de “chocolates”. Siga o g1 Piracicaba no Instagram 📲 Valores em propina eram combinados com os termos 'peixe', 'onça' e 'chocolate', diz investigação Reprodução Piadas durante acertos Durante o uso dos códigos para acerto da propina, os acusados chegavam a fazer piadas, conforme as apurações. Em uma delas, a brincadeira é feita com uma rede de lojas de chocolates conhecidas: Despachante: "Mais uma caixa de chocolate... quando abrir uma [nome da rede] em Saltinho... Obrigado". Servidor: "Eqto n abre pode trazer daí msm viu. A qualidade é até melhor". Em outro momento, após outro acerto, o servidor brinca com os códigos usados: Servidor: "A caça foi mto boa, peixes e onças. Mto obg" Despachante: Kkkkkk Troca de mensagens mostra piadas após acerto entre partes Reprodução Conversas também mostram preocupações A troca de mensagens também mostra preocupações do servidor em outros momentos. Em uma delas, a preocupação é em relação ao seu chefe e o risco de "tomar bronca". O receio dele é em relação a ter de desfazer um procedimento no sistema. Servidor: "Só espero pelo amor de Deus q n desfaçam o negócio, pq quem desfaz no sistema e o diretor é vou tomar bronca por fazer sem processo rs". Alguns diálogos, segundo as investigações, demonstram que o servidor sabia que estava praticando irregularidades Reprodução Em outra conversa, o acusado diz que, naquele dia, com receio de questionamentos da Ouvidoria, iria fazer apenas os processos que estivessem completos. Servidor: "Esses dias, a ouvidoria andou questionando sobre algumas coisas, n descobriram nada, mas n quero dar brecha". Conversa entre acusados demonstra preocupação de servidor com ouvidoria Reprodução 'Fazia vista grossa', diz promotor "Infringindo dever funcional, fazia vista grossa dos documentos apresentados – abstendo-se da necessária conferência e adequação - e realizava as baixas e autorizações solicitadas pelos corruptores", afirma o promotor de Justiça Dênis Parron, que assina a denúncia. Segundo as investigações, os envolvidos no esquema criaram um grupo em um aplicativo de mensagens, e o então servidor funcionava como "empregado" do escritório de despachantes, atendendo aos pedidos. "Mesmo situados na cidade de Campinas, os denunciados/prepostos [do escritório de despachantes] direcionavam os procedimentos para a Unidade de Trânsito de Saltinho, já que esquematizados com o servidor cooptado", diz outro trecho da denúncia. 700 transações em um dia O esquema foi descoberto após auditoria interna do Detran identificar movimentação incompatível com a demanda da cidade, que tem 8,3 mil habitantes. Em um único dia, o acusado chegou a realizar mais de 700 transações no sistema. As comunicações entre os envolvidos foram confirmadas por mensagens trocadas em grupos de aplicativo, nas quais os pagamentos eram codificados com termos como “peixe”, “onça” e “chocolate”. Impressão de Certificado de Registro de Licenciamento (CRLV) Detran-SP Apreensão de R$ 168,2 mil na casa do réu As investigações levaram à apreensão de R$ 168,2 mil em espécie e equipamentos na residência e no local de trabalho do ex-servidor, além da confirmação de que as transações ilegais eram direcionadas preferencialmente à unidade de Saltinho, por estar sob o controle do funcionário cooptado. Para a polícia, o réu confessou que recebia R$ 10 para agilizar cada processo encaminhado pelos despachantes, sendo que, a cada 15 dias recebia cerca de R$ 6 mil em espécie na praça pública da cidade. E afirmou que o dinheiro apreendido em sua residência foi recebido pelo trabalho com os outros acusados. Foi apurado que esse valor de R$ 168,2 mil foi recebido entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023. "[Nas mensagens trocadas, o servidor] é categórico em falar que, 'pagando bem', ele executaria o trabalho e que é possível 'fazer Pix', o que afasta qualquer alegação de que os contatos por meio de mensagens fossem em razão de dúvidas de procedimentos ou se referissem a caçadas ou pescarias. Os réus ainda se referem ao pagamento com o código 'chocolates' ou 'caixa de chocolates'", diz a juíza Flavia de Cassia Gonzales de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Piracicaba, na sentença do caso. Ela também destaca a quantidade de dinheiro em espécie apreendida na casa. "Essa quantia de dinheiro não é comumente guardada em casa, a menos que se trate de valores que não podem ser movimentados em instituição financeira, para não levantarem suspeitas, em razão de serem ilícitos", acrescenta. Fórum de Piracicaba, onde o caso foi julgado Edijan Del Santo/EPTV Liberação de documentos em segundos A magistrada ainda observa que, conforme dados do sistema, ele liberava documentações em poucos segundos de diferença entre um e outro. "Verifica-se nas conversas que ele sabia que havia ausência de documentação, mas, com a insistência dos corréus, acabou liberando a placa", argumenta. Enquanto o servidor perdeu o cargo público que ocupava e recebeu pena de prisão de 2 anos e 8 meses, a pena para os demais réus foi de 3 anos de reclusão. No entanto, a Justiça converteu as penas em prestação de serviços à comunidade e obrigação, para cada um dos condenados, de pagar cinco salários mínimos. Detran encerrou vínculo com servidor Em nota, o Detran-SP informou que ao identificar o caso, em janeiro de 2023, imediatamente acionou a Polícia Civil e a Controladoria-Geral do Estado, adotando todas as medidas cabíveis para a apuração dos fatos. "No âmbito interno, o Detran-SP instaurou processo disciplinar demissionário e determinou, de forma célere, o encerramento do vínculo funcional do servidor, que deixou o quadro do órgão em abril de 2024", acrescentou. O departamento ainda garantiu que "vem fortalecendo de forma contínua sua estrutura de integridade e controle institucional". "Em janeiro de 2025, com base no Decreto Estadual nº 69.053, de 14 de novembro de 2024, foi criada a Diretoria de Controle e Integridade, área técnica e independente responsável por auditoria, correição, gestão de riscos, integridade, transparência e acesso à informação", apontou. Comunicou, ainda, que "passou a adotar uma atuação mais rigorosa, técnica e preventiva no enfrentamento a irregularidades". Réus negam acusações Em depoimento para a Justiça, o ex-servidor voltou atrás na confissão feita à polícia e disse que sofreu coação psicológica. Mas a juíza do caso apontou que não há provas dessa suposta coação. A defesa do réu negou todas as acusações, alegando que não houve recebimento de valores nem favorecimento. Os réus ligados ao despachante também negaram a acusação. Alegaram que nunca pagaram propina. Justificaram o contato como sendo estritamente profissional, necessário para sanar dúvidas e lidar com processos remanejados para Saltinho devido à alta demanda autorizada pelo Detran após a pandemia. Veja os vídeos que estão em alta no g1 Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba

FONTE: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2025/10/18/caca-foi-boa-peixes-e-oncas-troca-de-mensagens-mostram-piadas-e-codigos-para-combinar-propina-com-servidor-do-detran-diz-mp.ghtml


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